Frequentemente ouvimos pessoas reclamando de que não têm sorte no pôquer, e, sim, todos nós já fizemos isso milhares de vezes. Sempre haverá alguém se queixando de uma jogada sem sorte, independentemente do lugar, seja no Facebook, em fóruns de pôquer ou durante intervalos de torneios ao vivo. Parece que todo mundo poderia ser um jogador de sucesso, se não fosse por AQUELA carta horrível no river...
E aí que está a verdadeira beleza do pôquer.
Um jogo para toda e qualquer pessoa
A principal razão de o Texas Hold’em ter se tornado um fenômeno de massa é que qualquer um pode participar do jogo e se divertir, mesmo mal conhecendo as regras. Não há outros esportes nos quais você tem a oportunidade de se sentir como as "estrelas" e competir com elas no mesmo nível.
Chris Moneymaker, que, em 2003, venceu o WSOP Main Event por meio de um satélite online de $39, mostrou ao mundo inteiro quão tênue é a linha entre sonho e realidade, especialmente no pôquer.
A "Senhora Sorte" vem e vai, tal qual uma onda. Enquanto jogadores, o que podemos fazer é dar à nossa sorte uma direção, ou seja, devemos encontrar a estratégia mais rentável para o campo contra o qual vamos competir. É isso o que os profissionais fazem. Às vezes eles tiram a sorte grande; às vezes eles não ganham um centavo por meses. No entanto, eles sempre vencem a longo prazo.
Uma estratégia de cascata vencedora
Todos têm uma estratégia, mesmo aqueles sentando na mesa pela primeira vez. Alguns jogadores leem e estudam livros sobre pôquer; outros preferem apenas conversar com outros jogadores. Contudo, todos eles aprendem muito com a experiência, espelhando-se em um adversário melhor ou simplesmente adaptando o jogo às tendências de tal adversário.
É como um efeito dominó: profissionais desenvolvem novas estratégias para obter melhor rentabilidade; seus oponentes começam a se adaptar lentamente e a absorver as novas informações que podem ser usadas contra oponentes mais fracos e assim por diante.
O interessante nisso é que não há fim para o processo de aprendizagem. Não existe algo como uma "estratégia perfeita" completa para vencer no pôquer. Ter vantagem sobre um oponente significa apenas estar um passo à frente dele, independentemente do ponto onde você se encontra no processo de aprendizagem.
É por isso que continuamos a ouvir que o Texas Hold’em evoluiu muito ao longo dos anos, ainda que seja muito difícil explicar quanto em poucas palavras. O melhor que podemos fazer é focar alguns aspectos e tentar explicar a forma como determinados padrões têm sido substituídos por novos hábitos.
Vamos examinar como essas mudanças têm afetado profissionais e amadores e, não menos importante, como a própria indústria do pôquer tem se adaptado às crescentes demandas.
É um prazer termos Alec Torelli a bordo para entender como usar estratégia e marketing no pôquer.
Aumentos
P: Alec, vamos começar por tamanhos de aumento: no passado, era comum colocar 3 vezes o valor do blind como tamanho de aumento de abertura. Antes do advento do pôquer online, não era incomum repicar até 4 ou 5 vezes o valor do big blind. Hoje em dia, especialmente quando os montes não são grandes, a maior parte dos jogadores usa tamanhos menores, de um aumento mínimo a 2,2, 2,5 ou 2,8, dependendo da posição. Você poderia explicar, em termos simples, por que essas mudanças passaram a ser a nova moda entre os jogadores? E, mais detalhadamente, que tipo de vantagens existe em tamanhos menores do que aqueles do passado?
R: Desde o boom do pôquer, lá em 2003, o jogo evoluiu de forma constante e tornou-se cada vez mais eficiente. O tamanho do aumento tem suas raízes na matemática. Bons jogadores repicam pré-flops menores porque precisam arriscar menos para ganhar a mesma quantidade de dinheiro, o que fornece a eles uma proposta maior de risco e recompensa.
O que começa como um padrão de jogo observado em alguns jogadores de elite logo se torna uma tendência à medida que um número cada vez maior de jogadores entende os motivos por trás das decisões de tais jogadores e começa a adotar suas estratégias.
Floats e backdoors
P: Anos atrás, o conceito de capital não estava claro para todos. Movimentos como "floating" com um backdoor straight e uma/duas cartas maiores não eram populares, embora agora nós os vejamos com mais frequência. O que mudou no jogo para tornar essas opções mais rentáveis?
R: Pagar tornou-se uma jogada mais poderosa ao longo dos anos, especialmente quando em posição, pois um flat call permite que jogadores bons aprendam muito sobre a mão dos seus oponentes a um preço baixo. Em vez de aumento do blefe, como eles costumavam fazer no passado, hoje os jogadores apenas pagam a aposta sem aumentá-la ou realizam um "float" no flop e tentam pegar o pote, se seus oponentes pedirem mesa no turn.
Como é preciso escolher os momentos mais adequados para fazer isso, os jogadores costumam realizar floats com algum tipo de capital, e os backdoor straight e flush draws são os melhores momentos para tal. Um exemplo seria se você tivesse as cartas Q♦ J♦ e as cartas da mesa fossem 10♦7♣ 4♣.
Um jogador mais avançado também entenderia que não está meramente pagando e tentando compreender seu capital, mas que há várias formas de ganhar o pote. Ao pagar sem aumentar, ele também pode representar um flush ou straight em uma variedade de turns e rivers, o que dá a ele mais chances de ganhar o pote.
Entrar de limp já não é mais um palavrão
P: Vamos falar sobre entrar de limp: no início de 2000, muitos jogadores preferiam pagar na posição inicial em vez de repicar. Após mais de uma década, durante a qual entrar de limp foi considerado um movimento "duvidoso", alguns jogadores estão incluindo uma variação para entrar de limp, especialmente em pés, como o botão e o corte, e até, com menos frequência, em posições anteriores. Por que todo mundo começou a evitar entrar de limp? Uma estratégia de limp equilibrada pode ser rentável hoje em dia?
R: É possível ver alguns jogadores entrando de limp no pé, mas isso ocorre geralmente em partidas de torneio quando suas chances de pré-flop são muito melhores (devido aos antes) e os montes são muito menores.
Não me importo com entrar de limp em torneios, mas não é algo que se vê com frequência em mesas a dinheiro. Entretanto, com a situação certa, a imagem correta e a estratégia apropriada, entrar de limp poderia ser uma jogada eficaz em mesas a dinheiro e torneios.
Variações de abertura e novas tendências entre amadores
P: Considerando sua experiência, como as variações de abertura mudaram entre amadores?
R: Elas ficaram mais firmes com o passar dos anos, já que os jogadores melhoraram suas noções básicas. Hoje muitos jogadores, mesmo os amadores, têm boas noções básicas de pré-flop e esforçam-se para jogar mãos de mesmo naipe fortes e em posição.
P: Você concorda que o amador médio adapta seu jogo às novas "tendências" ou, na maioria das vezes, ele joga de forma autêntica?
R: Acho que todo mundo adapta o jogo ao longo dos anos, mas os profissionais certamente têm se ajustado de forma mais rápida e intensa do que os amadores. Acredito que um bom amador de hoje poderia vencer um profissional de 10 anos atrás. O jogo evoluiu bastante, e o jogador médio está muito melhor em 2016.
P: De modo geral, quais são as mudanças mais significativas observadas por você, além daquelas já mencionadas?
R: Se tivesse que mencionar mais alguma que notei com o passar dos anos, diria que atualmente os jogadores pensam sobre o jogo com mais precisão. Eles usam variações de mão para descrever situações. Quando comecei a jogar, esse conceito era muito menos discutido, e os profissionais da "velha guarda" costumavam colocar seus oponentes em uma mão em particular e tomar decisões a partir daí. Foi só nos últimos 5 anos que as pessoas passaram a entender o conceito de variações de mão e como usá-las para tomar decisões eficazes.
P: Ainda é possível para um novo jogador começar a jogar pôquer hoje e ter lucro ou levaria muito tempo (e dinheiro) para entrar no ritmo e se manter assim?
R: Com certeza, é possível. É claro que é mais difícil do que era em 2003, mas isso não é uma desculpa para não começar. Todos os outros principais esportes seguiram essa progressão, mas há mais oportunidades agora nesses esportes do que em qualquer outro momento na história.
O beisebol é extremamente competitivo hoje, mas 100 anos atrás jogadores da liga principal precisavam de um segundo emprego para se manter. As coisas mudam com mais rapidez na sociedade em que vivemos hoje, mas estou confiante de que, nos próximos 10 anos, vai haver jogadores subindo nos ranks e se tornando fenômenos, como observamos 10 anos atrás com estrelas em ascensão como Tom Dwan.
P: O sonho de se tornar um profissional ainda está vivo entre os jogadores que acabaram de começar? Se não, que tipo de metas alguém que deseja começar agora precisa ter?
R: Com certeza. Recentemente elaborei um curso completo sobre como amadores aspirantes podem se tornar profissionais de sucesso chamado Four Step Poker (Pôquer em Quatro Passos). O resultado desse curso está sendo positivo, e muitos dos meus clientes relataram que conseguiram produzir rendimentos paralelos.
Considerando somente os feedbacks que recebo dentro da minha comunidade, posso afirmar com certeza que há salas de pôquer nas quais pessoas motivadas, dedicadas e disciplinadas podem ganhar a vida.
O mercado de jogo patrocinado e profissional
P: O pôquer também mudou como indústria: a era de ouro dos patrocínios chegou ao fim. As salas de pôquer podem esquecer dos embaixadores ou eles ainda desempenham um papel significativo em termos de marketing?
R: No mundo do pôquer, a reputação de uma pessoa é tudo que ela tem. Embora patrocínios formais sejam muito mais difíceis de se obter no mercado atual, o boca-a-boca e a confiança na marca ainda são as coisas mais importantes. Isso se aplica especialmente aos sites de pôquer online, nos quais ocorreram muitos escândalos ao longo dos anos. É uma pena que jogadores tenham perdido a confiança na indústria como um todo, tendo em vista que ainda há bons sites por aí, como o 888 Poker, que são completamente respeitáveis, 100% legais e regulamentados.
P: O que você acha de torneios de high roller? São bons para promover a imagem do pôquer ou apenas alienam amadores aumentando a distância entre eles e os profissionais de grande nome?
R: High rollers são ótimos por serem uma boa publicidade para o jogo e proporcionarem entretenimento a empresários ricos. Tudo que atrai mais dinheiro e atenção para o esporte é algo bom. Claro, o profissional comum não pode jogar os high rollers, mas há muitos torneios para jogadores de todos os níveis. Em poucas palavras, há mais pontos positivos no high roller do que pontos negativos.
Pôquer: 10 anos no futuro
P: Como você vê a indústria do pôquer daqui a 10 anos?
R: É engraçado que você tenha perguntado isso. Recentemente criei um vídeo sobre o assunto e escrevi um blog também sobre isso. Em resumo, acredito que os avanços tecnológicos e a rápida disseminação de informações continuarão a tornar o jogo mais competitivo. Acho ainda que haverá chances para ganhar uma boa quantia de dinheiro no jogo, embora o teto de ganhos para profissionais sempre tenha sido muito baixo em comparação a outros setores.
Espero que o pôquer online seja regulamentado nos Estados Unidos, o que ajudará a mudar a opinião pública e, consequentemente, chamará a atenção de patrocinadores para o esporte.